Desde a minha infância, raras foram as épocas em que não havia pelo menos um carro com mais de dez anos de uso em casa.
Perco a conta das carangas que já habitaram a nossa garagem: Chevette, F-1000 (e foram duas!), Belina, Fusca, Bonanza, Javali...
Só não incluo os Mercedes 1313 e 1513 na lista porque, definitivamente, eles não cabiam na garagem. =D
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Eis o dito cujo, na sua melhor forma em 2004. Haja garagem! |
Contudo, se uma espécie de carro se fez presente em todas as minhas quase três décadas de vida, essa é a Chevrolet Caravan.
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Créditos: Wikipedia |
Lembro do meu pai ter uma dentre as minhas primeiras memórias, com os faróis redondinhos e sem o revestimento da porta do passageiro - o que me rendia muita diversão olhando todo o interior da porta e vendo o vidro subir e descer quando girada a manivelinha. =D
Ele era aficcionado por esse tipo de carro. Sim, carros grandes sempre foram a principal opção em casa - talvez daí vem o porquê de eu me dar bem com a condução de barcas em geral.
Depois daquela Caravan, vieram mais uma ainda nos anos 80 e outra na década de 90 - sem mencionar as que não presenciei. Meu pai dizia que, no total, foram 7, quase sempre puxadas para o dourado ou para o marrom.
E aí ficamos sem Caravans em casa até 2004 (ou 2005?), quando, na época da lanchonete que tivemos dentro da extinta Honda Delean, meu pai soube de uma Caravanzona 1986 que estava literalmente encostada e comprou ela por uma bagatela. E, adivinhe, ela está em casa até agora.
Ter um carro velho não é das missões mais fáceis. Não obstante o meu uninho 97 não dar o mínimo trabalho, a Caravanzona leva mais de 10 anos de idade de vantagem no quesito experiência.
O trabalho de "reativação" que meu pai fez deu certo. Tanto é que o ser que vos fala, em sua versão acima-da-média, fez uma viagem até Campos do Jordão dirigindo ela, em 2006, com toda a família embarcada no navio - e é mó divertido viajar de barca...
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Ainda bem que a suspensão estava em dia. |
Mas, passado o tempo, novamente meu pai acabou abandonando a barca em um estacionamento. E lá ela tomou chuva, e ficou esquecidinha por uns bons 8 meses, sob os protestos meus e da minha mãe.
Aí, em 2010 ele resolveu colocar ela em ordem de novo. Botou a mecânica em ordem, arrumou os freios... E se mudou de dimensão em agosto, antes de fazer mais coisas.
Sobrou pra mim a Caravan.
Aliás, a Caravan, a Bonanza, o Javali, o Guincho, o Uno e a Flash.
Fácil, né? Eu devia ter um pátio, e não uma garagem - sem mencionar o convênio com o posto de gasolina.
Até então, cuidar desse monte de carros mais parecia um ônus do que um bônus. Mas, como herdeiro e motorista, I'd never deceive it - e encarei a parada.
Pois bem. E eu, que até então pensava que carro velho só dava dor de cabeça, comecei a cuidar de detalhinhos.
A pintura da Caravan estava gastíssima (esse termo existe?), um ferrugem aqui e outro ali, fora a ausência de polainas e uma barulheira danada em tudo que era canto... Quanto iam me pagar na barca, dois contos? Eu não ia aceitar isso.
Aí caiu do céu a proposta do meu primo-agregado, o Tatu: conheço um funileiro bão, lá em Caieiras, que vai dar um tapa no visual dela em condições camaradíssimas.
O que eu tinha a perder? Topei a parada, e, em outubro/2010, mandei a Caravan com ele para uma restauração cujo resultado eu não poderia prever.
...
Final de março de 2011.
Recebo a ligação: a Caravan está pronta!
Fiquei ansioso. Mal podia esperer para a bichinha chegar em casa.
E qual não foi a grata surpresa...
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04 de abril de 2011. Ela voltou! |
Ela estava LINDA!
Um pouco mais escura do que originalmente, mas com a pintura 98% perfeita - salvo um vernizinho no nariz dela, que ainda será resolvido.
Mas lataria não era tudo.
E o ponto do carburador? E a vibração nas polainas?
Sem falar da parte elétrica. Você já viu carro que volta da funilaria? É divertidíssimo: painel não acende, lanterna não ilumina, você liga o limpador traseiro e o dianteiro funciona.. Enfim, uma festa. =D
Mas não me dei por vencido, e comecei a resolver mais detalhes, mais detalhes, e comecei a pegar gosto pela coisa.
Comecei a entender um pouco mais de mecânica. Conhecer os aspectos da linha Opala/Caravan, conversar com gente que entende (entre eles o Jesus, parceiro de faculdade que virou jornalista e amigo pessoal), até a chegar a passar o sábado deitado debaixo do carro caçando folgas...
E o resultado vai surgindo, cada vez mais.
E, devagarzinho, a Caravan que um dia esteve encostada, começa a ganhar a cara do atual dono dela.
A mecânica está uma delícia, a barulheira sumiu, o painel está completo e cada vez mais detalhes vão sendo acertados.
Ela está anunciada para venda, mas é um carro de público específico. Sei que não vai ser vendida em poucos dias. Até quando fico com ela, não sei... Mas vou curtir ao máximo.
E, nessa história toda, eu vou aprendendo aquilo que passo a chamar de magia do carro velho: você começa a mexer naquilo que a molecada considera como velharia, vai se envolvendo, e quando olha o resultado dá vontade de fazer o carro velho de motor imponente parecer mais novo que esses monoblocados descartáveis que se vêem por aí. E é mó divertido assustar os carros de papel com o ronco de um seis canecos. ;)
Ou você acha que eu trocaria essa barca por um Celta???